Vez ou outra alguém nos questiona sobre nossas viagens, sobre as crianças se lembrarem delas e coisas afins.
Dia desses depois de uma destas conversas – questionamentos me peguei pensando sobre o que de fato estes mais de 20 anos de viagens deixou em minha vida e o que eu gostaria que meus filhos apreendessem de nossas viagens.
Na minha vida estes 20 anos deixaram um enraizado entendimento de que não existe nada tão bom que nunca seja ruim, nem tão feio que nunca seja bonito, nem tão certo que nunca esteja errado.
Mas não foi só isso, nestes 20 anos aprendi e apreendi muito.
Aprendi que abacate pode ser salgado. Que feijão e linguiça ou macarrão podem ser café da manhã. Que banho não precisa ser diário.
Aprendi que não existe frio e sim roupa errada. Que é possível viver 6 meses com uma mala de 15kg! 😀 Que carregamos excessos e supérfluos, a vida é mais leve do que imaginamos.
Aprendi que coisas novas e fora de nossa rotina nos enriquecem muito mais do que anos de uma rotina inabalável.
Aprendi que viajar é mais fácil do que imaginamos e que proporciona um prazer que nunca se acaba.
Também apreendi muito nestes anos. Apreendi que as pessoas são mais solidárias que a rotina nos faz enxergar. Que estranhos são do bem na maioria das vezes.
Apreendi que pessoas têm opiniões diferentes, modos de viver diferentes, gostos diferentes, são felizes de forma diferente.
Apreendi que existem muitas formas de solucionar algo, de olhar o mundo, de ser feliz. E inclusive apreendi que posso mudar meu ponto de vista.
Apreendi que aprender línguas é um delicada forma de dizer a um “diferente” que você está disposto a entende-lo.
Apreendi que vez ou outra posso e sou muito feliz fazendo coisas aparentemente contraditórias. Por exemplo, amo de paixão visitar museus – às vezes escolho destinos por causa de seus museus, mas adoro também a Disney e sou capaz de reuni-los no mesmo roteiro e desfruta-los com o mesmo prazer. E o melhor apreendi que isso não torna ninguém paradoxal.
Aliás, apreendi que rotulação e julgamento são antes de tudo a expressão dos limites de cada um.
Apreendi que o mundo é grande o bastante. Tem espaço para gostos neo-clássico e moderno, para gente “coxinha” ou gente “foie gras”, para gente hype chic e hippies anos 70, para Fusca e Jaguar, para o Hermitage e para Miami, para cristãos e muçulmanos.
Apreendi que ninguém está sempre completamente certo ou errado.
E aí me questionei sobre o que eu gostaria que meus filhos aprendessem e apreendessem viajando.
É claro que quando viajamos aprendemos muito sobre história, geografia ou ciências. Faz parte do pacote, apesar de viajarmos desempacotados. 😉
Mas espero mais do que isso, gostaria que eles apreendessem as diferenças que povoam o mundo e soubessem respeita-las. Que aprendessem a conviver com o diferente com respeito e alegria, entendendo-o apenas como uma alternativa para a mesma coisa.
Sinceramente, eu gostaria que eles expandissem seus horizontes para muito além do meu. Que eles compreendessem muito daquilo que eu sequer sou capaz de imaginar.