Uma perguntinha com muitas respostas…
A primeira, e provavelmente a mais fácil delas, pode ser a seguinte:
Viajamos com as crianças para descansarmos, para nos divertir, para ficarmos juntos, para conhecermos coisas novas.
Viajamos para brincar na praia, para andar de bicicleta, para subir na Tour Eiffel, para tirar foto da rainha ou com o Mickey! E quem sabe, com alguma sorte, um dia ainda encontramos sir Paul McCartney e postamos as fotos aqui! 🙂
Tudo isso é verdade, mas não é a única razão que nos leva a viajar com as crianças.
Uma outra resposta, um tantinho mais complexa…
Viajamos com as crianças porque o mundo em que elas nasceram é menor do que aquele em que nasci. É um mundo em que 1 bilhão de pessoas circulam em torno do globo terrestre todos os anos. É um mundo em que um filme amador feito em Los Angeles “cai na rede” e provoca ondas de ataques em 20 países em diferentes continentes, inclusive o europeu. É um mundo em que as informações circulam de forma incessante. É um mundo em que o mandarim começa a ser uma língua estudada por crianças ocidentais. É um mundo onde o Brasil não é mais o país do futuro, o futuro chegou.
É passado aquele mundo em que a geração de meus avós viveram, muitos deles imigrantes que sequer ousaram sonhar em um dia pisar novamente na terra natal. Dentre eles poucos o fizeram. Era um mundo que vivia guerras, destruição e pobreza.
É também passado o mundo em que a geração de meus pais viveram, onde alguns deles ousaram sonhar em conhecer a terra natal dos pais ou Paris. “Ah, Paris a cidade mais linda do mundo”, diz Remy no desenho Ratatouille… a viagem dos sonhos de uma vida. Alguns chegaram lá. Foi um mundo de reconstrução pós-guerra e que tinha muito menos.

Em 1964, já famosos… Fonte: Beatles Bible
E é também passado o mundo em que minha geração cresceu, onde o Brasil era prometido como o país do futuro e começava a trilhar caminhos democráticos. Alguns de nós ganharam uma viagem para Disney no aniversário de 15 anos, outros ganharam um programa de intercâmbio para aprimorar o inglês, outros fizeram estágios internacionais ao concluir a faculdade, outros fizeram especialização ou doutorado sanduíche. Ouso dizer que minha geração sonhou com Paris, muitos chegaram lá e alguns continuaram na estrada rumo a Londres, Roma, Barcelona, Nova York, San Francisco, Santiago, Sydney… o mundo começou a ficar menor ou melhor, as distâncias tornaram-se menores.
Então vem a geração de meus filhos, nascida no futuro de um país promissor de um mundo conectado. Uma geração que começa a olhar o mundo através de uma tela touch screen de um iTudo. Filha de uma geração que já experimentava um mundo com distâncias menores.
E são justamente estas distâncias que conferem ao mundo de hoje este novo tamanho que nossos filhos passam a enxergar, tamanho este que impõe novos olhares sobre ele mesmo.
A diversidade cultural, econômica, religiosa do mundo fica cada vez mais evidente neste mundo conectado e cada vez mais próximo. Aprender o respeito, a tolerância e a convivência pacífica é dos exercícios mais importantes que desafiam esta geração que cresce sob nossos olhos. E este aprendizado ganha muita força justamente em viagens.
Voltamos então ao sonho de Paris. Ah, Paris continua lá lindíssima, talvez a cidade mais linda que o homem já construiu. Também cada vez mais muçulmana – apenas uma respeitosa constatação minha sem qualquer juízo de valor ou fundamento científico, o que justamente a torna um excelente exemplo do respeito às diferenças.
Talvez comece em Paris o sonho desta nova geração, no entanto ele não se extingue aí. Alça vôos maiores, inimagináveis para as gerações anteriores. Eles olham para a Ásia e alguns já ousam sonhar com a Índia, Japão, Singapura ou China!

“Nossa mamãe, nunca estive tão próximo do Japão!” comentou o Dito mirando o Pacífico em Santa Monica – Califórnia e sonhando com o Japão…
Para esta geração, a China e seu mandarim são só uma questão de tempo.
“A mente que se abre a uma nova idéia
jamais voltará ao seu tamanho original.”
Adorei o texto, Simone. Sempre ouço muitos comentários sobre o fato de levarmos também as nossas meninas viajar pra longe – dizem que é muito trabalho pra quem nem vai lembrar. Discordo. Primeiro que lembram sim, ao menos um pouquinho. E, depois, o melhor é estarmos juntos e todos lembrarmos disso bem dentro do coração.
É isso Flavia, fica dentro do coração. Fica no prazer de estarmos juntos por dias a fio. Fica no aprendizado das pequenas ou grandes diferenças que povoam o mundo. E fica no aprendizado de como se comportar perante estas diferenças.
Obrigada pela visita!
Xoxo 🙂
Adorei o texto e a maneira lúcida e objetiva da abordagem do tema!
Muito obrigada Da. Eliza! Palavras incentivadoras são de enorme valor! Obrigada pela visita 🙂 Bjs